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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A CARTA VERMELHA


     O porteiro estendeu a carta.
    Luc não agradeceu e enquanto abria a carta, uma profunda ruga sulcou-lhe a testa. Uma surpresa que expressou a dor tomou-lhe conta do rosto. Palavras e incisas:
    - Sua Mãe faleceu. Enterro 10 horas. 
    Luc continuou parado, como uma estátua olhando para o vazio. Nenhuma lágrima lhe veio nenhum aperto naquele coração.
    Era como se um estranho houvesse morrido. Por que nada sentia pela morte da velha?
    Com um montão de pensamentos confundindo-o, avisou a esposa, tomou a van e se foi, vencendo o silencio e os quilômetros de estrada enquanto girava a cabeça a mil.
    Não queria ir ao funeral e, se estava indo era apenas para que o pai não ficasse mais amargurado.
    Ele sabia que mãe e filho não se davam bem.
    A coisa havia chegado ao final no dia em que, depois de mais algumas acusações, Luc havia feito as malas e prometendo nunca mais botar os pés naquele local.
    Um emprego bom, casamento, telefonemas ao pai pelo Ano Novo...
    Ele havia se desligado da sua família não pensava na mãe e a última coisa na vida que desejava na vida era ser parecido com ela.
    O velório: - Poucas pessoas. O Pai está lá, pálido e choroso.
    Quando reviu o filho, as lágrimas correram silenciosas, foi um abraço de “Volta do Filho Pródigo ao Lar”, silêncio.
    Depois, ele viu o corpo sereno envolto por um lençol de rosas brancas - como as que a mãe gostava de cultivar.
    Luc não verteu uma única lágrima, o coração não pedia.
    Era como estar diante de um desconhecido, um estranho, MELHOR MAIS um...
    O funeral: - O sabiá cantando, o sol se pondo.
        Na hora da despedida o pai colocou-lhe algo pequeno e retangular na mão:
    - Há mais tempo você poderia ter recebido isto - disse. Mas, infelizmente só depois que ela se foi eu encontrei entre os guardados mais importantes...
    Foi um gesto mecânico que, minutos depois de começar a viagem, meteu a não no bolso e sentiu o presente.
    O foco mortiço da luz do bagageiro revelou uma pequena carta.
    Abriu-a curioso.
    Páginas amareladas. Uma Carta escrita a tinta vermelha, de sangue real.
    De repente.
        Então, Luc acariciou as pétalas e lembrou-se da mãozinha da mãe podando, adubando e cuidando com amor.
    Por que nunca tinha percebido tudo aquilo antes?
    Uma lágrima brotou como o orvalho, e erguendo os olhos para o céu dourado, de repente, sorriu e desabafou-se numa confissão alíviadora:
    - "Se Deus me mandasse escolher, eu não queria ter tido outra mãe que não fosse você velha! Obrigado por tanto amor, e me perdoe por haver sido tão cego?"
- Graciano Caseiro -

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